O Crescimento da igreja e seu impacto social em Rio Branco/AC (Parte 3)


Por Ruy Cavalcante

O crescimento da igreja evangélica tem gerado impacto positivo e sólido na sociedade rio-branquense?

            Quando falo de impacto social positivo, me refiro a uma transformação genuína dentro da sociedade, gerando diminuição gradativa da violência urbana assim como de todos os outros fatores negativos que assolam a sociedade. Esse questionamento é importante, uma vez que é notório o crescimento evangélico na cidade, considerando ainda que, para cada cidadão convertido ao evangelho de Jesus temos, teoricamente, um cidadão a menos para cometer crimes, para fazer uso de entorpecentes, para praticar violência doméstica, dentre outros, o que geraria obrigatoriamente uma melhoria desse tipo de estatística.
            A partir desta perspectiva, observe a figura 5:

Figura 5: Dados relativos ao aumento dos principais tipos de violência. Números brutos comparativos entre o 1º semestre de 2010 e 1º semestre 2012.

            Infelizmente não há, no Estado do Acre, dados estatísticos confiáveis anteriores a 2010, uma vez que as informações referentes aos dados tratados na figura 5 estarem dispostas em diversos sistemas de dados, o que impossibilita sua análise com fidelidade, dificuldade totalmente sanada somente a partir do segundo semestre de 2009. Por esta razão farei uma análise comparativa apenas entre o primeiro semestre de 2010 e o primeiro semestre de 2012, a fim de ilustrar as informações aqui defendidas.
            Conforme já vimos, em 2010, 41,1% da população de Rio Branco era evangélica. O crescimento continua acelerado, conforme comprova pesquisa realizada em 2011 pela “Data Control”, encomendada pelo jornal acreano “A Tribuna”. Segundo a mesma, em 2011, 53,3% da população acreana já se dizia evangélica, o que nos leva a considerar indubitavelmente que este número continua crescendo, especialmente na capital acreana.
            Dessa forma, com tal crescimento evangélico, era de se esperar que a violência urbana diminuísse de forma inversamente proporcional, ou pelo menos que ficasse estagnada, uma vez que a conversão do indivíduo gera um novo cidadão, não mais conforme o anterior, em outras palavras, um cristão a mais significa um bandido (ou um bandido em potencial) a menos. Bem, é assim que nos ensina o Evangelho de Jesus.
            Porém não é o que vemos acontecer em Rio Branco. Não obstante o aumento do número de evangélicos, a violência continua aumentando paralelamente. Note na figura 5 que a quantidade de estupros e assaltos aumentou, respectivamente, 6% e 29,8% no primeiro semestre de 2012, em comparação ao primeiro semestre de 2010.
            Nas famílias, a violência doméstica[1] também não recuou, antes continua aumentando. Entre os casos mais comuns, de ameaça e lesão corporal, somente em Rio Branco houve um salto de 1619 casos registrados, nos primeiros seis meses de 2010, para 1992, no mesmo período de 2012, um aumento de 23% nas ocorrências. Se considerarmos que, estatisticamente, uma grande porcentagem dos casos não são registrados, esses dados tornam-se ainda mais sintomáticos.
            Contudo, quando observamos o dia-a-dia da cidade, estes números tomam características ainda mais absurdas, do ponto de vista do crescimento da comunidade evangélica.
            Diariamente é possível observar nos jornais locais, casos de violência e corrupção onde evangélicos aparecem como acusados, seja com envolvimento de congregações, seja de forma isolada. Além disso, grande parte dos escândalos políticos, ocorridos na capital, envolve a bancada evangélica, fato esse notório nos mais diversos canais de notícias locais.
            O policial civil Luciano Henrique de Souza, coordenador da seção de logística do principal departamento operacional da Secretaria de Estado da Polícia Civil - SEPC, afirma que em praticamente todas as grandes operações realizadas pela polícia civil em Rio Branco, há evangélicos figurando entre os investigados, especialmente entre aqueles que acabam presos pelas mais variadas ilicitudes. Ele chega a dizer que, para cada 10 prisões que executa, a proporção de evangélicos varia entre 50% e 60%.
            Em recente operação realizada pela polícia civil em Rio Branco, referente à “Máfia do Detran”, amplamente divulgada pela imprensa local, dos 27 presos, acusados de crimes de corrupção passiva, ativa, formação de quadrilha dentre outros, 19 eram evangélicos, em sua maioria oriundos de igrejas adeptas da visão G12 e M12, conforme relatos de participantes da operação, fato esse bastante debatido nos grupos locais das redes sociais.
            Embora os gritos de avivamento sejam constantes em Rio Branco, fundamentados especialmente neste acelerado crescimento da comunidade evangélica, definitivamente não é isso que os dados sociais e o próprio cotidiano da cidade revelam.
            A verdade é que não houve nenhum benefício prático para a população local com o aumento do numero de evangélicos. Não há um bairro sequer transformado pelo poder do Evangelho, não há redução da violência, não se vê diminuição da pobreza, tampouco da gravidez na adolescência, dos números do tráfico, os casamentos continuam se dissolvendo, inclusive dentro das igrejas, enfim, nada mudou, ou se mudou, foi para pior, conforme vimos na figura 5. Em outras palavras, o avivamento anunciado é falso, assim como é falso o evangelho mediante o qual boa parte destas pessoas tem aderido ao cristianismo evangélico.

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[1] Casos de violência na esfera familiar.

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